segunda-feira

GENITHO RASTA - UM MÙSICO DA TERRA

Compositor e músico moçambicano, Genitho Rasta recupera do tempo os velhos ritmos e os instrumentos tradicionais moçambicanos, misturando sons,melodias e culturas.

Texto > Manuela Sousa Guerreiro
Fotos >
Bruno Barata/Editando

Dedilhando a "mbira" (um instrumento moçambicano, assente numa pequena tábua meio tosca onde se fixam tiras de metal), Genitho Rasta vai, aos poucos, evocando as lendas, a guerra de libertação e a longa resistência moçambicana. O espectáculo continua e, desta vez, acompanhado do violino e do saxofone, Genitho experimenta o "bangwe" (uma espécie de guitarra que ressoa em cabaças).

A "mbira" e o "bangwe" são dois dois instrumentos tradicionais de Moçambique tocados pelo músico e compositor moçambicano Genitho Rasta. A estes junta-se ainda a "timbila" (um xilofone artesanal), que tem a particularidade de ser um instrumento de orquestra. O que explica a presença em palco do saxofone e do violino. "Não costumo romper com os costumes tradicionais. Embora, junte o que á de positivo na cultura moçambicana com o que há de positivo noutras culturas". A fusão de sons, melodias e culturas, algo que o artista confessa não ser premeditado, vai-se tornando realidade no pequeno palco do auditório da FNAC, em Lisboa, conquistando as várias dezenas de pessoas que ali se reúnem.

Genitho Rasta nasceu em Inhambane, mas tem raízes na província de Tete, de onde é originária a família, e em Maputo, onde cresceu. Talvez por isso os três instrumentos tradicionais moçambicanos eleitos pelo compositor sejam característicos de cada uma dessas regiões. "A "mbira" ou "sansi", é do centro do país. No norte, o "bangwe" é mais conhecido e as timbilas estão mais ligadas à região sul", explica Genitho Rasta em conversa com a Revista Moçambique. "Mas a raiz do meu trabalho está na música tradicional do país e não na música de uma ou doutra província. Daí ter privilegiado vários instrumentos que são característicos de vários pontos de Moçambique", sublinha.

Respeitando "o ritmo antigo", Genitho canta a história, a guerra de libertação e a luta de resistência. Os trabalhos de pesquisa levam-no a resgatar do imaginário moçambicano os velhos contos populares e infantis.

Reencontrando as raízes

Como em quase todos os países africanos, também em Moçambique a música está presente nas várias cenas do quotidiano e é um veículo privilegiado de expressão religiosa, espiritual e cultural. Mas contrariando a realidade de muitos desses países, a diversidade e a riqueza da música e dos instrumentos moçambicanos permanecem ainda por descobrir.

No país da "marrabenta" são poucos os músicos que se atrevem a ir buscar os ritmos antigos, tradicionais, talvez por falta de apoios e de meios ou talvez por que ainda existem certos preconceitos e complexos. "Há quem diga que a marrabenta representa a música moçambicana. Considero isso uma aberração. A marrabenta é sobretudo colonial, produto de uma assimilação cultural, onde os arranjos e os tempos obedecem a uma estrutura ocidental, completamente diferente da música tradicional, da música da terra".

Para Genitho Rasta, o gosto pela música tradicional começou há poucos anos e quase por acaso. "O primeiro instrumento tradicional que comprei foi a um indivíduo que os vendia para decoração. Comecei a tocar sozinho e com a ajuda de amigos, depois fui fazendo alguma pesquisa e descobrindo os músicos tradicionais. Hoje toco a "mbira", as "timbilas" ou o "bangwe" como quem toca uma guitarra ou um saxofone", conta. Reacções? "O público, mesmo em Portugal, conhece e aprecia. Em Moçambique, culturalmente a música é bem aceite, ainda que comercialmente seja difícil abrir espaço e conseguir apoios", esclarece

Publicado originalmente na revista “Moçambique”, em 2002.
Reproduzido neste blog com a devida vénia.


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